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   Mulheres negras

A importância de novas narrativas

"O imaginário brasileiro, pelo racismo, não concebe reconhecer que as mulheres negras são intelectuais."

Conceição Evaristo

Escritora brasileira

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Conceição Evaristo

(Foto:Isabela Kassow )

Pense em uma assessora; em uma professora; em uma médica.; em uma estudante; uma bibliotecária, uma assistente social e uma psicóloga. Imagine cada uma delas exercendo suas profissões, e levando a vida como mulheres. Agora se questione: para além da vivência como mulheres, quantas delas você imaginou sendo mulher negra?

Imaginar mulheres negras em certos cargos ou em determinadas posições sociais ainda é uma questão social, mas também individual. Muitas delas têm as suas vidas categorizadas a partir de pré-conceitos, são julgadas, estereotipadas e muitas vezes ainda sem direito à humanidade.

Durante muito tempo mulheres negras se viram estereotipadas em narrativas. Nos filmes, novelas, na literatura e nas músicas eram mulatas do samba, empregadas domésticas, escravas, cuidadoras, mãe pretas, barraqueiras ou fortes o tempo todo. Mas, porque não donas da própria narrativa e representadas como advogadas, médicas, jornalistas, professoras ou engenheiras, por exemplo?

As mulheres negras são o maior grupo demográfico do país, mas têm as piores condições no mercado de trabalho e são a base da hierarquia social, de acordo com a pesquisa “Potencias (in)visíveis, a realidade da mulher negra no mercado de trabalho” feita por ‘Indique uma preta e Box 1824’ de 2020. 

Essa vem sendo uma das formas de preterimento, condicionamento e apagamento da trajetória de mulheres não brancas na sociedade. No entanto, apesar da história difundida ter sido construída por um olhar eurocêntrico e racista, atualmente pode se utilizar a influência das mídias sociais e das redes da Internet como grandes ferramentas para ajudar a transformar esse cenário, aliadas à educação, aos movimentos sociais e às políticas públicas.

Es te re ó ti posm

FIG 4 aquilo que se amolda a um padrão fixo ou geral 5 esse padrão formado de ideias preconcebidas, resultado da falta de conhecimento geral sobre determinado assunto 6 imagem, ideia que categoriza alguém ou algo com base apenas em falsas generalizações, expectativas e hábitos de julgamento 7 aquilo que não possui originalidade; banalidade, chavão, lugar-comum.

Estereótipo

" O teu cabelo não nega, mulata

porque és mulata da cor.

Mas como a cor não pega mulata

mulata eu quero o teu amor"

Lamartine Babo

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"Olha essa mulata quando dança,
É luxo só
Quando todo o seu corpo se balança
É luxo só
Tem um quê, que traz a confusão
O que ela tem meu Deus
É compaixão
Êta morena bamba
Olha essa mulata quando dança"
É luxo só

Ary Barroso

Fogosa. Barraqueira. Ama de leite. Cuidadora. Empregada. Samba no pé. Aguenta o tranco. Corpo violão. Coisa de preta. Nega maluca. Nega feia. Quantas dessas palavras você associou à alguma mulher não branca? Essas são palavras e expressões ligadas diretamente a mulheres negras e ao imaginário construído para elas. A linguagem e todos os signos e símbolos não são neutros, marcam determinada posição.

Raça e gênero são dois recortes fortemente presentes na construção de uma narrativa eurocêntrica e atrasada, que não pensa as pessoas como indivíduos, existentes com suas singularidades, como nos conta nossa primeira entrevistada.

“Sempre que havia um personagem negro em uma novela ou série, meu nome virava o nome desse personagem. Eu me lembro fortemente de uma minissérie chamada Raízes, exibida da TV Globo, em 1977, cujo personagem, o protagonista, se chamava Kunta Kinte e por muito tempo o meu nome foi esse”, afirma a servidora pública, Ana Cristina dos Santos Araújo de 54 anos.

A estudante de Biblioteconomia pela UNIRIO, Jéssica Cristina Junior da Silva, de 25 anos, diz que termos como “mulata”, “moreninha” e “fogosa”, “são termos racistas e estereotipados para se designar pessoas miscigenadas. Eu não gosto. Principalmente por conta de políticas de branqueamento, que mesmo após terem sido criadas, há anos e anos atrás, são reproduzidos até hoje. São ‘elogios’ que as pessoas usam”. Por namorar um menino branco, ela já ouviu falas que estão enraizadas em nossa sociedade como a de que “agora poderia clarear a sua família”.

“Eles falaram isso como se isso fosse ótimo. Agora, os seus filhos vão nascer com uma cor ‘melhorzinha’. Por isso eu não acho legal, nem um pouco”, reflete.

 

Para a professora e assistente social, Roberta Belchior, 35 anos, essas expressões fundamentam violências e tornam mulheres negras suscetíveis a elas. “Essas expressões estão intrinsecamente relacionadas, ao racismo estrutural ao qual o Brasil está fundamentado, na sua gênese e são termos que além de diminuir as mulheres, além de serem execráveis, fundamentam as violências e tornam as mulheres negras cada vez mais suscetíveis a todos os outros tipos de violência “, diz.

Historicamente, o homem negro e a mulher negra vivenciam diferentes violências e construções de padrões de beleza durante a vida. Muitas das crianças, dos jovens e adultos negros, passam ou passaram por episódios de preconceito que variam do mais sutil e velado ao mais agressivo e violento.

De acordo com o estudo do Ipea, o Atlas da Violência desse ano, observou que apenas em 2018, para citar o exemplo mais recente, os negros (soma de pretos e pardos, segundo classificação do IBGE) representaram 75,7% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes de 37,8%.

Comparativamente, entre os não negros (soma de brancos, amarelos e indígenas) a taxa foi de 13,9, o que significa que, para cada indivíduo não negro morto em 2018, 2,7 negros foram mortos.

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O fato de o racismo existir para homens e mulheres negros não é novidade. E de que ele afeta de uma forma desigual e bem mais complicada a mulher, também não. Para além dos problemas sociais de gênero que perpassam a sociedade, a combinação gênero e raça, chamada de interseccionalidade está em evidência tanto nas pautas feministas como em pesquisas, trabalhos e livros a respeito de cor no Brasil. De acordo com o mesmo estudo do Ipea (2020), mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes de 5,2, quase o dobro quando comparada à das mulheres não negras.

Sexualização

Sexualização

A questão da miscigenação surgiu em virtude da suposta democracia racial no Brasil, velando assim o preconceito estrutural existente na sociedade. Um dos exemplos disso foi a figura da mulata, objetificada e exaltada como forma de elogio às mulheres não brancas. 

Mulata: “[...] resultado da cópula do animal considerado nobre (equus caballus) com o animal dito de segunda classe (equus africanus asinus). Sendo assim, trata-se de uma palavra pejorativa para indicar mestiçagem, impureza, mistura imprópria, que não deveria existir. Empregado desde o período colonial, o termo era usado para designar negros de pele mais clara, frutos do estupro de escravas pelos senhores de engenho. “

 

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Segundo Roberta Belchior, professora e assistente social, de 35 anos, a figura da Globeleza e de muitas outras, representa essa hipersexualização e ajuda a manter expressões, como o da mulata, na sociedade.

Roberta Belchior

Ouça o que ela diz:

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Nossa a sua filha é linda, vai dar muito trabalho quando crescer... “o que faz e o que fez com que homens como aquele, enxergassem em uma criança alguma possibilidade de beleza? Como eles entendiam que eu daria trabalho?” - Nátaly Neri

 

Nátaly Neri, estudante de Ciências Sociais na Unifesp, em São Paulo e influencer digital, fala no Tedx São Paulo Salon, da própria expectativa em relação ao seu corpo e a autoestima ao longo da sua vida, fruto da sociedade racista. Em “A mulata que nunca chegou”, ela afirma que, por um tempo, as pessoas a viam e tratavam como mulata.

 

“Naquela época pra mim, mulata era uma categoria menos pior de negra. As pessoas falavam: Nátaly você é feia pra caramba nem alisando esse seu cabelo dá jeito, sorte sua que você não é tão preta. Eu levantava minhas mãos para o céu e falava: sorte minha que eu não sou tão preta. Deus não me fez branca, me entristeço por isso, obrigada por ter me feito mulata, é um sofrimento a menos. Ser mulata não era tão ruim, eu não era a mulata, mas eu me tornaria a mulata...-Esperei a mulata e ela não veio. Cadê a minha autoestima que viria com ela? Cadê a única expectativa de amor-próprio que me prometeram a vida inteira? “, diz ela, no Tedx-.

Os anos foram se passando e na adolescência ela viu que a mulata não chegaria. Passou a odiar o próprio corpo, se odiar, odiar um corpo padronizado, valorizado.  “E para as mulheres em que a mulata chega? Quando a mulata chega, essas mulheres pedem a Deus: Deus por que me fez mulata? E eu pedia pra Deus: Deus por que não me faz mulata? A diferença é que racismo é estrutura. Ele vai fazer com que você se odeie. Se o racismo não mata na entrada, ele faz com que você queira morrer na saída. Se o racismo destrói de maneira clara e descarada a negra de pele retinta, preta, escura, o racismo fala meu nome como forma de amor. Ele fala mulata, bonita, sensual e depois me esfaqueia pelas costas. “

Preterimento e outras formas de solidão

Preterimento e outra formas de solidão

Além de toda a carga do estereótipo da mulata, a mulher negra lida com diversos tipos de solidão ao longo da vida. Elas são preteridas numa escala que engloba violência, autoestima, expectativa de vida, educação, mercado de trabalho, salário e vida amorosa. A realidade é que existe uma ausência de equidade explicita no dia a dia e nas estatísticas.

“A lembrança mais forte que eu tenho é do uso da peruca, que eu ia para a escola e a minha mãe colocava peruca na minha cabeça. Tinha umas questões relacionadas também aos meus lábios. Falavam para eu fechar sempre a boca porque meus lábios, eles achavam que eram muito volumosos. E que seria interessante na maioridade fazer uma cirurgia plástica para diminuir esses lábios. O ambiente de maiores insultos foi na escola, que curiosamente era administrada por madres que nada faziam para amenizar essas brincadeiras. Todo ano fazíamos um passeio até a Quinta da Boa Vista, onde eu era comparada com os macacos, de maneira pejorativa.”, conta a servidora pública, Ana Cristina. Para ela sempre existiram questões de discriminação como ser seguida por segurança quando entrava no shopping, mercado ou farmácia.

“Tinha poucos amigos, era excluída pelo fato de ser negra e pobre”

Isabele Domingues Pinheiro.

“A primeira memória de solidão que eu tenho é no primário, de eu ter sido a única punida assim por uma coisa de criança, de bobeira. Por conta disso, eu era a única que ficava sozinha na sala.”

Elisa Ferreira.

“Eu já fui classificada como a menina mais feia da classe na terceira série “ 

Bruna Santana.

"Tinham aquelas ‘brincadeiras’, comigo e com outro menino. Que era de chamar de petróleo, de macaco, falar que nós iriamos namorar etc. Coisas que eu, enquanto criança, não fazia a menor ideia de que eram falas extremamente racistas, eu achava que era apenas ‘brincadeira’, eu achava que era só coisas de criança chata, criança brinca, criança zoa, eu achava que era coisa normal. “

Jéssica Cristina Junior da Silva.

A influenciadora, empresária de moda e atual apresentadora da série “Se essa roupa fosse minha”, do GNT, falou sobre o assunto em seu canal no Youtube contando um episódio de solidão de sua filha.

De acordo com o Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) desse ano, ao longo de uma década (2008-2018) a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 12,4% enquanto houve uma redução de 11,7% na mesma taxa para mulheres não negras.

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Fica evidente que as disparidades vão além do gênero. E essa combinação gênero e raça, interseccionalidade se faz necessária ao se olhar para a realidade de mulheres negras. Os estereótipos ajudam a insensibilizar as características genuínas e individuais de cada uma, suas histórias e realidades.

Do lugar da mulher do cuidado,porém pouco cuidada

Além da violência, se construiu por muitos anos uma imagem da mãe preta servil, que cuida, cria e educa. Fica para ela a responsabilidade do outro e da condição de servente, mucama, privada de seus direitos e condição de existência.

 

Atrelado a isso também se constituiu um imaginário de que características morais, como: ‘respeito, boa conduta, de confiança, sossegada, alegre, carinhosa, boa aparência seriam supostamente ligadas ao fenótipo e vistas como características de branco e essenciais para exercer seu trabalho.

 

Essa imagem imposta no período colonial ainda é realidade, nos dias de hoje, de uma grande parcela da população feminina negra que atua como doméstica.

“Quando nos referimos ao trabalho doméstico, estamos tratando de uma das ocupações mais antigas e importantes em numerosos países. E é fundamental ter em mente que essa ocupação está vinculada à história mundial da escravidão, do colonialismo e outras formas de servidão. No Brasil, historicamente, é um trabalho desempenhado predominantemente por mulheres negras e de baixa renda, e, atualmente, se manifesta como um fenômeno mundial que perpetua dinâmicas de discriminações baseadas na raça, na etnia, na origem social e na nacionalidade.”, diz o Estudo de Vulnerabilidade de Domésticas do Ipea, feito em junho deste ano.

Ainda, segundo o mesmo estudo, no Brasil, em 2018, havia, pouco mais de 6 milhões de pessoas ocupadas no trabalho doméstico. Desse total, 5,7 milhões eram mulheres e 3,9 milhões eram mulheres negras.

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Grada Kilomba

(Foto: reprodução El Pais)

“Por não serem nem brancas nem homens, as mulheres negras ocupam uma posição muito difícil na sociedade supremacista branca. Representamos uma espécie de carência dupla, uma dupla alteridade, já que somos a antítese de ambos, branquitude e masculidade. Nesse esquema, a mulher negra só pode ser o outro, e nunca si mesma. [...] Mulheres brancas têm um oscilante status, enquanto si mesmas e enquanto o “outro”  do homem branco, pois são brancas, mas não homens; homens negros exercem a função de oponentes dos homens brancos, por serem possíveis competidores na conquista das mulheres brancas, pois são homens, mas não brancos; mulheres negras, entretanto, não são nem brancas nem homens, e exercem a função de “outro” do outro.”

 

Grada Kilomba

Artista, pesquisadora e escritora

Por fim, pensar a mulher negra como ser ‘o outro do outro’, do distanciamento reparador histórico da mulata, somada a ideia do lugar negro fazendo o seu ‘trabalho de preto’, nasce a preta forte, que aguenta tudo, a guerreira.

A seguir, um trecho do texto de Sojourner Truth, "E não sou uma mulher?", lido e refletido por Elisa Ferreira, estudante de letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), uma de nossas entrevistadas.

‘[...] internalizar a guerreira, na verdade, pode ser mais uma forma de morrer. Reconhecer fragilidades, dores e saber pedir ajuda são formas de restituir as humanidades negadas. Nem subalternizada nem guerreira natural: humana.”

Djamila Ribeiro

 

Mestre em Filosofia, filósofa e escritora

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(Foto: Lucas Lima e Josi Marchesini)

Djamila Ribeiro

Internet e Mídia: palco para debater raça

INTERNET E MÍDIA: PALCO PARA DEBATER RAÇA

Nos últimos tempos, o debate sobre questões raciais vem ganhando cada vez mais espaço na mídia ou nas redes sociais nos últimos tempos. Mortes como a de Agatha Felix, Marielle Franco, Miguel Otávio, George Floyd entre muitas outras, geraram uma comoção e agitação maior tanto na população brasileira como na mundial.

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Muito além dos números, questões raciais, independente de gênero, são complexas no país devido ao seu histórico estrutural, social, econômico, político e identitário. Além disso, houve um esforço para a construção identitária e patriota histórica de país. Do ‘melting pot’ as atuais ‘hashtags’, o país ainda tenta transferir para o outro a responsabilidade de atitudes racistas.

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Gisele Machado

Ouça o que ela diz:

Gisele Machado, Bacharel em Relações Públicas e Jornalismo, formada pela Universidade Gama Filho, e diretora da Marrom Glacê Assessoria & Agenciamento, conta que o intuito de abrir a empresa em 2009, era de dar visibilidade aos artistas e aos eventos negros para falar sobre negritude. Porém, na época em que começou a trabalhar, quando mandava a foto de um ator negro para os jornalistas, ouvia que o ator não tinha o perfil ou não ‘rendia’, “ o ator podia está estreando na melhor novela, no melhor filme, na melhor série e  eu ouvia que ele não tinha o perfil. Que perfil é esse? Para quem que ele escreve? Para quem que ele informa?”, questiona. Atualmente, ela afirma que houve uma melhora de 50% quanto a essa recepção.

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Construir uma realidade, em que exista para além de igualdade, equidade, seja de gênero, orientação sexual, classe social, racial, entre muitas outras parece utópico e é um desafio. Requer reconhecimento do passado, entender a complexidade dele e do presente e investigar o que pode ser feito a partir de agora para o futuro.

Ela ainda diz que:

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Pensando nisso, existem ferramentas que podem ajudar em uma mudança ou transformação de fato: a educação, as políticas públicas, a democratização da informação, política de cotas entre muitas outras.

Apesar das disparidades socioeconômicas que não devem ser ignoradas, o acesso à internet veio para possibilitar uma espécie de democratização da informação.

É inegável se pensar que hoje, ela tem se tornado uma ferramenta, e até muitas vezes a porta de entrada para a construção e co-criaçao de debates e de novas narrativas. Prova disso, são os sites, redes sociais e blogs que existem atualmente e servem para comunicar, de diferentes formas e meios, determinado assunto.

Verifica-se que a rede mundial de computadores se cristaliza como a segunda opção dos brasileiros na busca de informação, atrás apenas da televisão. Quase metade dos brasileiros (49%) declarou usar a web para obter notícias (primeira e segunda menções), percentual abaixo da TV (89%), mas bem acima do rádio (30%), dos jornais (12%) e das revistas (1%),conforme a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM), de 2016.

Sendo assim, as redes sociais também desenvolvem um papel importante. As pautas debatidas nelas acabam sendo incorporadas pelos grandes meios de comunicação do país. Exemplo atual disso, foi a repercussão nas redes sociais de um programa chamado #EmPauta da Globonews que ao tratar de debates e conflitos raciais, colocou profissionais e comentaristas, todos brancos, para falar sobre racismo. No Twitter, o assunto foi trendtopic, com diversas críticas sobre a escolha da emissora em não chamar para o debate ao menos um apresentador ou debatedor negro.

Em consequência disso, um dia após, a emissora reconheceu o erro e tentou corrigi-lo colocando comentaristas e profissionais negros, principalmente mulheres, para falar a respeito do tema.

Segundo o estudo realizado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ( IESP-UERJ) sobre Diversidade Racial e de Gênero na Publicidade Brasileira nas últimas três décadas (1987-2017), pessoas brancas costumam representar cerca de 80% das figuras humanas que aparecem em peças publicitárias. Já para os principais colunistas dos principais jornais do país, constatou-se que as mulheres negras representam apenas 4% do total de colunistas do Jornal O Globo e 1% do Estadão.

“Não basta não ser racista, tem que ser antirracista" 

Angela Davis

Filósofa, escritora e professora

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Angela Davis

(Foto:  Choupas Cyrille

Vale lembrar também que profissionais negros, mulheres e homens, não falam apenas sobre racismo. Eles sabem discutir, dialogar e ensinar outros assuntos também. Colocá-los apenas para falar sobre racismo perpetua o preconceito.

Gisele diz que, apesar da notória mudança, atualmente ainda existe um longo caminho a se percorrer e a necessidade de maior visibilidade e espaço, principalmente nos jornais.

“Se todo mundo entender que a gente precisa estar em todos os lugares, ocupar todas as áreas da sociedade, no jornalismo, na arte, na medicina, na música, na dança, o mundo seria mais leve.”, afirma Gisele Machado.

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Gisele acrescenta que:

Representatividade
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REPRESENTATIVIDADE

Assista o vídeo em que nossas entrevistadas falam sobre o processo de se tornar uma mulher negra na sociedade, sobre representatividade, mídia e a importância de construir novas narrativas.

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Neusa Santos Souza

(Foto: Reprodução Programa Espelho (Reprodução Youtube)

“Tornar-se negro é um processo lento de busca por uma autodefinição per passado por contextos históricos e políticos, por tensões, descobertas, por histórias familiares e pela subjetividade."

 

Neusa Santos Souza

Psiquiatra, psicanalista e escritora

As mulheres negras tiveram suas narrativas contadas, impostas, julgadas e estereotipadas. Aos poucos essa realidade está começando a mudar. Existe um longo caminho para se percorrer, porém algumas dessas mulheres estão tendo a oportunidade de contar suas próprias histórias e principalmente, ter voz.

A psicóloga Isabel Cristina Ribeiro, conhecida como Bel Prazer, que trabalha há 41 anos na área, enfatiza que para além da representatividade na mídia é essencial que a escola ajude na construção da educação, apresentando personagens históricos que as crianças desconhecem. “Temos uma educação ainda eurocentrada. A escola precisa dar uma formação identitária.”

Bel trabalha em projetos socioculturais com crianças e adultos e atende a grupos de mulheres negras que ainda não se sentem capazes, apesar de já possuíram Mestrado e Doutorado, por exemplo. “Ao longo dos anos você vai percebendo coisas que não percebia antes. As pessoas brancas não precisam provar o tempo todo que são capazes, que são íntegras e profissionais competentes. Existem mulheres com Mestrados, capazes e competentes, mas que são desacreditadas por morarem em um lugar onde a correspondência não chega por exemplo.”

 

Em sua atuação no Centro Sociocultural Lectícia Fonseca (CSLF), que é responsável por realizar as ações de atendimento direto do Instituto Floriano Peçanha dos Santos, instituto que atende crianças e jovens de comunidades em vulnerabilidade social do Rio de Janeiro, ela pontua que as pessoas têm que estar cientes dos seus direitos e dispostas a dialogar e principalmente a ouvir. “As crianças por exemplo, tem muito a ensinar e contar da realidade delas. Todos têm algo a ensinar e aprender. O que você sabe? O que a gente pode construir juntos? Acredito que a troca de saberes é o que nos levar a prosperar. 

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Isabel Cristina Ribeiro

“Não precisamos que nos salvem, queremos ter oportunidade.”, afirma Bel.

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O MOVIMENTO DO AFROFUTURISMO COMO POSSIBILIDADE

Afrofuturismo como possibilidade

O afrofuturismo "basicamente é a ideia radical de que pessoas negras existem no futuro. Surgiu na literatura em 1994, nos Estados Unidos, como movimento, conceito, filosofia e todas as existências humanas criadas. Como o futuro é uma construção mental, o afrofuturismo é um lugar onde pessoas negras estão agindo e estão vivas “, afirma Nátaly Neri, no vídeo " Afrofuturismo: a necessidade de novas utopias."

“O passado não começa nas correntes, ele começou livre. Entender quem fomos nos ajuda a entender quem queremos ser. Tecnologias ancestrais são todos os modos de viver a vida. As curas através das ervas, a filosofia africana, a capoeira, os ritos, a música, os processos de kilombamento no Brasil, o parto natural, as terapias holísticas, as yogas, a oralidade e seus métodos, a escrita, o culto aos antepassados, os exercícios de respiração e tantos outros saberes que nos permitiram chegar até aqui.” – afirma a professora, mestra e doutoranda  em filosofia, Katiúscia Ribeiro, no vídeo "(RE)ancestralizar as vozes através das filosofias africanas".

Para se inspirar e aprender

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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca de professores, do Curso de Comunicação Social, da Universidade Veiga de Almeida, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

 Leticia Heffer da Costa Manduca

lemanduca@yahoo.com.br

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